
Ao que tudo indica, o título nacional esvaiu-se pelo ralo. Resta a briga por uma vaga na Libertadores. Culpados? Muitos! Ou melhor: todos! A direção por sua omissão em momentos decisivos e por seu desvio de foco quando do episódio da eleição. O treinador por sua teimosia e por suas invenções (sempre fora de hora). Os jogadores por sua falta de qualidade e, por vezes, falta de empenho e resignação. E, por fim, a torcida, que tantas vezes se preocupou mais em cantar que o Grêmio ia sai campeão do que apoiar o jogo todo, esquecendo-se de que a cobrança, após os noventa minutos, é algo salutar no futebol.
Oxalá os ventos da sorte soprem para o nosso lado, permitindo que o “Sr. Imponderável de Almeida” deixe a taça do Brasileiro no nosso Memorial. Seria mais uma conquista improvável e inacreditável, ante a qualidade do nosso plantel.
Nas últimas décadas, o Grêmio tem se destacado por times fortes, aplicados, marcadores, onde a raça e a superação são tão ou mais valorizados que os gols. Em virtude destas características galgamos posições nos cenários nacional e internacional. Fomos denominados de “Rei dos mata-mata”. Adquirimos um respeito enorme de todo o Brasil, que sempre frisou a dificuldade de enfrentar o Grêmio em momentos decisivos. Enfim, tais características deram vida à imortalidade constante do nosso hino.
No entanto, a par de todas essas características – que já são patrimônio histórico e cultural do tricolor – nós contávamos com qualidade. E quando falo de qualidade, não me refiro ao toque bonito, ao drible desconcertante ou aqueles malabarismos que Robinhos e Trairinhas Gaúchos adoram fazer. Falo, isto sim, do passe qualificado, de uma matada de bola que, de pronto, já tire dois zagueiros da jogada, do chute a gol com precisão, do lançamento rápido, da velocidade dos atacantes, etc.
Todavia, nos últimos anos, percebe-se que a qualidade restou relegada ao segundo plano. Alguém lembra do nosso último exímio batedor de faltas? Ou então daquele jogador que, quando o coletivo estiver mal (vide a última partida contra o Figueirense), possa, num lampejo de genialidade, resolver o jogo em um dou dois lances? Sinceramente, eu não lembro!
Ao meu ver, criou-se, no imaginário do nosso povo, a idéia de que basta a imortalidade e a superação para atingirmos qualquer objetivo. Basta juntar onze pessoas e sobre elas derramar o manto tricolor, para que deste conglomerado saia um time capaz de vencer qualquer certame.
Esta idéia tem nos custado um preço demasiadamente caro. Somente o Grêmio, devido a esta dedicação e raça, consegue ir longe com time medíocres (a Libertadores de 2007 e o Brasileiro deste ano são exemplos típicos). No entanto, o “ir longe”, por si só, não basta. Precisamos vencer! A vitória é inerente à nossa história! E a volta das conquistas depende necessariamente do retorno do quesito qualidade técnica.
E não me venham com conversa de que qualidade só se consegue com muito dinheiro. O Vitor e o Réver são exemplos de que bons jogadores podem sair barato. É lógico que, para isso, faz-se necessário criatividade e , principalmente, um ótimo conhecimento sobre futebol e sobre os jogadores disponíveis no mercado nacional e internacional.
Portanto, fica a minha proposta, para que se reflita sobre esta (leve) mudança de cultura. Não precisamos abandonar o gosto pela raça e superação. Mas é imperioso que se exija uma maior qualidade técnica, sob pena de virarmos o time do “quase”. Certamente muitos se oporão a esta mudança, ao menos inicialmente. Mas o tempo confirmará que a técnica é tão essencial quanto o nosso espírito guerreiro.