sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Por uma (leve) mudança de cultura.


Ao que tudo indica, o título nacional esvaiu-se pelo ralo. Resta a briga por uma vaga na Libertadores. Culpados? Muitos! Ou melhor: todos! A direção por sua omissão em momentos decisivos e por seu desvio de foco quando do episódio da eleição. O treinador por sua teimosia e por suas invenções (sempre fora de hora). Os jogadores por sua falta de qualidade e, por vezes, falta de empenho e resignação. E, por fim, a torcida, que tantas vezes se preocupou mais em cantar que o Grêmio ia sai campeão do que apoiar o jogo todo, esquecendo-se de que a cobrança, após os noventa minutos, é algo salutar no futebol.

Oxalá os ventos da sorte soprem para o nosso lado, permitindo que o “Sr. Imponderável de Almeida” deixe a taça do Brasileiro no nosso Memorial. Seria mais uma conquista improvável e inacreditável, ante a qualidade do nosso plantel.

Nas últimas décadas, o Grêmio tem se destacado por times fortes, aplicados, marcadores, onde a raça e a superação são tão ou mais valorizados que os gols. Em virtude destas características galgamos posições nos cenários nacional e internacional. Fomos denominados de “Rei dos mata-mata”. Adquirimos um respeito enorme de todo o Brasil, que sempre frisou a dificuldade de enfrentar o Grêmio em momentos decisivos. Enfim, tais características deram vida à imortalidade constante do nosso hino.

No entanto, a par de todas essas características – que já são patrimônio histórico e cultural do tricolor – nós contávamos com qualidade. E quando falo de qualidade, não me refiro ao toque bonito, ao drible desconcertante ou aqueles malabarismos que Robinhos e Trairinhas Gaúchos adoram fazer. Falo, isto sim, do passe qualificado, de uma matada de bola que, de pronto, já tire dois zagueiros da jogada, do chute a gol com precisão, do lançamento rápido, da velocidade dos atacantes, etc.

Todavia, nos últimos anos, percebe-se que a qualidade restou relegada ao segundo plano. Alguém lembra do nosso último exímio batedor de faltas? Ou então daquele jogador que, quando o coletivo estiver mal (vide a última partida contra o Figueirense), possa, num lampejo de genialidade, resolver o jogo em um dou dois lances? Sinceramente, eu não lembro!

Ao meu ver, criou-se, no imaginário do nosso povo, a idéia de que basta a imortalidade e a superação para atingirmos qualquer objetivo. Basta juntar onze pessoas e sobre elas derramar o manto tricolor, para que deste conglomerado saia um time capaz de vencer qualquer certame.

Esta idéia tem nos custado um preço demasiadamente caro. Somente o Grêmio, devido a esta dedicação e raça, consegue ir longe com time medíocres (a Libertadores de 2007 e o Brasileiro deste ano são exemplos típicos). No entanto, o “ir longe”, por si só, não basta. Precisamos vencer! A vitória é inerente à nossa história! E a volta das conquistas depende necessariamente do retorno do quesito qualidade técnica.

E não me venham com conversa de que qualidade só se consegue com muito dinheiro. O Vitor e o Réver são exemplos de que bons jogadores podem sair barato. É lógico que, para isso, faz-se necessário criatividade e , principalmente, um ótimo conhecimento sobre futebol e sobre os jogadores disponíveis no mercado nacional e internacional.

Portanto, fica a minha proposta, para que se reflita sobre esta (leve) mudança de cultura. Não precisamos abandonar o gosto pela raça e superação. Mas é imperioso que se exija uma maior qualidade técnica, sob pena de virarmos o time do “quase”. Certamente muitos se oporão a esta mudança, ao menos inicialmente. Mas o tempo confirmará que a técnica é tão essencial quanto o nosso espírito guerreiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom seu Luis Fernando, teu texto apanha bem alguma mudanças que necessitamos. A raça é inerente ao Grêmio e isso é reconhecido até mesmo pela crítica brasileira. Isso significa que já temos algo que muitos querem alcançar. O que falta portanto é aliar isso com qualidade, o que não pode ser confundido, como bem alertaste, a contratar focas para jogar no tricolor. É aí que entra a torcida. Não podemos deixar de lado a capacidade critica, caso contrario podemos perder os referenciais de futebol vencedor. A série B foi o momento em que a torcida admitiu que o Gremio não tinha como ter melhores jogadores do que aqueles. Então comprou a bronca e apoiou lipatin, escalona, nunes e cia.
Aquele momento de trevas já foi superado. Agora temos mais condições de fazer time. Se não temos dinheiro suficiente temos que ter criatividade e competencia administrativa. Um time precisa na verdade 4 jogadores realmente bons. O resto cresce junto com estes.

Anônimo disse...

Concordo, como já disse anteriormente não podemos jogar tudo em cima da imortalidade e da raça gremistas. A camisa não joga sozinha, a torcida pode se esganar cantando que o Morales ainda será o Morales. Se fosse só por vontade e amor ao Grêmio, bastava formar um time com os blogremistas e mais meia dúzia da Geral que seríamos invencíveis.

Apesar de dizerem o contrário, futebol tem lógica sim, basta ver quem será o campeão esse ano. Um time exemplo de competência na gestão. E nós? Seguimos com a política dos velhos caciques, que atendem aos "interésses" particulares.

Vamos mudar essa cultura, senão seremos "quase" campeões da Libertadores, Brasileiros...