quarta-feira, 3 de junho de 2009

De volta ao local do crime.

Foi difícil voltar ao local do crime. As lembranças daquele fatídico 23/11/2008 ainda são recentes. Fomos para o vestiário ganhando por 1 x 0 do Vitória, com o Rafael Carioca perdendo um gol sem goleiro e o Valtinho com a certeza de que seríamos tricampeões nacionais. Eu não tinha tanta certeza assim, falei para ele que o Roth iria aprontar. O resto da história vocês já conhecem.

Assim, desmotivado pelo passado recente e pela atuação pífia diante do fraco Caracas, cumpri meu dever de gremista e fui ao Barradão domingo passado. Não vou me ater ao desempenho desse bando de jogadores correndo atrás da bola, perfeitamente analisado pelo Luiz Fernando na postagem anterior. Vou tentar descrever sobre os bastidores da partida.

O Barradão vivia clima de festa. Salvador havia sido escolhida sede da Copa de 2014 e o povão, alheio aos milhões de reais que serão torrados na organização do evento e ao fato de que não terão condições para bancar os ingressos, comemorava ao som de Ivete Sangalo. Entrega do troféu de campeão baiano e vibração nas arquibancadas. Seguindo uma das máximas do futebol de que jogo festivo termina em derrota do dono da casa, o Grêmio carimbaria as faixas do Vitória e voltaria com os 3 pontos. Entretanto, o Grêmio atual contraria até as máximas do futebol.

O criticado diretor de marketing gremista, “Cana” Pacheco, entregou uma camisa do Grêmio, modelo rugby Libertadores para a cantora baiana, que agradeceu e acenou para a torcida tricolor. Atitude louvável, apesar de irrelevante. Ainda bem que ele teve a sensibilidade de não presenteá-la com aquela camisa branca que entramos em campo. Enfim, deve ter sido idéia do Comitê.

A torcida gremista, de aproximadamente 800 pessoas, era formada em sua maioria por gaúchos desgarrados que emigraram para o país vizinho em busca do calor, de um coqueiro e de uma praia. Porém, o que me impressionou foi a quantidade de gremistas baianos e de outros estados do Nordeste. Eu mesmo fui ao jogo com dois gremistas que pisaram pela 1º vez no RS na final da Libertadores contra o Boca Juniors. Era o terceiro jogo do Grêmio que assistiam e viria a ser a terceira derrota.

Tive a curiosidade de perguntar a alguns gremistas estrangeiros as razões que os levaram a lutar contra a ditadura da Globo, da Bandeirantes e do Canal 100, e a torcer para um time cisplatino que é a antítese do fair play e do joga bonito, admirados no Reino de Macunaíma. As respostas eram as mais diversas: um vizinho era gremista, tinha um time de botão, admirava a raça do time, etc. Nenhuma delas, porém, ressaltava ações de marketing. São gremistas cooptados nos anos 80 e 90, admiradores de Renato Portaluppi e da indignação de Felipão.

Analisa a foto abaixo. Tu somente vês gaúchos com a camisa do Grêmio?

Muito se discute entre os blogremistas que o Grêmio necessita de ações de marketing para arrecadar dinheiro e para angariar mais torcedores. O próprio Presidente gremista, na viagem a Caracas, se deu conta da necessidade de desenvolver o nome gremista na América do Sul (antes tarde do que nunca). Eu, inclusive, critico severamente a forma com que a marca Grêmio vem sendo tratada nas últimas gestões. A feiúra da nova camisa ocupou as páginas da imprensa vermelha e virou motivo protestos por parte da torcida.

Para mim, todos esses conceitos caíram por terra no domingo passado. A melhor ação de marketing que o Grêmio pode fazer é montar um time de futebol competitivo. Camisa feia? Me perdoem os colecionadores, alguém conhece camisa mais feia do que o modelo Negresco da época do Felipão. Ninguém reclamou e os estoques se esgotaram. Contribuição dos sócios e venda de produtos não sustentam um clube, mas premiações, verbas de televisão e patrocínios. Não podemos nos esquecer que torcemos por um clube de futebol, não pelo melhor site, melhor estádio ou melhor camisa.

Não podemos perder o foco, o problema é muito maior. Futebol não é mais uma caixinha de surpresas. Um time de futebol se monta com planejamento. Enquanto outros clubes se reúnem para planejar os próximos 10 anos, no Grêmio não se sabe o que fazer nos próximos 10 dias. Nosso time navega sem DIREÇÃO.

De que adianta renovar com um treinador, quando se sabia que ele não resistiria até a metade do ano. Como que são contratados laterais tão fracos para jogar no esquema 3-5-2, no qual são peças fundamentais? Por que esperar 2 meses para trazer um treinador, quando estamos disputando a competição mais importante do continente? Um treinador ofensivista, depois de demitirmos um treinador invicto há 1 ano atrás por achá-lo faceiro. É muita falta de convicção.

E os gremistas baianos? Continuam fiéis ao Grêmio, apesar das 3 derrotas em 3 jogos. E, a propósito, adoraram a nova camisa branca. Vai entender...

2 comentários:

amarante disse...

Disse tudo.
O que mais me apavora é que nosso presidente, que deveria ser a figura central em um processo de reorganização do clube, é apático e passa quase despercebido. É dele a responsabilidade de detectar e resolver os problemas que impedem o Gremio de reencontrar os caminhos de Glória. Além disso tem que ser respeitado por jogadores, torcida e comissão tecnica. Não é o que está acontecendo.

Luiz Fernando disse...

Baita texto, kbcinha!

A falta de direção é evidente e é, ao meu juízo, a principal causa de tudo.
Falta planejamento, convicção e política de futebol. Ah, e falta tb alguém que entenda de futebol e conheça o mercado.
E é bom nos ligarmos e nos readaptarmos as novas exigências do mundo futebolísitico.
Ou vcs acham q todo ano nascem gremistas baianos?

abraço